Tchau dor!

Normalmente, quando eu tinha aprontado ou quando eu estava chorando, meu pai me perguntava olhando fundo nos meus olhos: “Você quer aprender pelo amor ou pela dor?”.

Claro que eu respondia pelo amor! E claro que era entre soluços de choro a maior parte das vezes, afinal, eu estava triste ou frustrada. Mas mesmo assim, pelo amor ainda era melhor do que pela dor!

Lembro de uma vez que eu e meu pai estávamos em um mercado, eu tinha por volta de 7 anos de idade. Estava andando em um dos corredores quando de repente me deparei com uma nota de dez reais. O que claro, para uma criança nos anos 2000 era uma grana, muitos chicletes e sorvetes envolvidos!  

Peguei a nota rapidamente do chão e fui perto do meu pai, toda feliz, afinal, estava “rica”. Meu pai perguntou o que tinha acontecido e eu disse que tinha achado um dinheiro no chão e imediatamente meu pai perguntou: “De quem é esse dinheiro?”. E eu respondi: “Eu achei, não tem dono” – claramente já me considerando a dona dele.

Lembro do meu pai se agachando, respirando fundo e olhando fixamente nos meus olhos, cerando os dele um pouco, e então, começou uma aula de Ética – Anos depois, ele foi novamente meu professor de Ética, desta vez durando um semestre inteiro da minha graduação.

Meu pai me fez voltar no mesmo corredor onde achei o dinheiro, e naquele exato momento havia um senhor visivelmente procurando algo nos bolsos. Meu pai me fez perguntar o que o senhor estava procurando e diante da resposta – sim ele estava procurando dez reais que haviam caído – me fez devolver o dinheiro.

Anos depois, meu pai me confessou que pensou em me dar de recompensa dez reais, mas percebeu que eu devia aprender a fazer o certo, sem esperar nada em troca. Que se eu ganhasse uma recompensa pela minha ação, que não fosse apenas a gratidão do senhor, ele estaria me passando uma lição equivocada.

Aprender pelo amor, não quer dizer que vamos ter tudo do nosso jeito e muito menos, de que vamos ter tudo.

Pelo amor, às vezes temos que abrir mão de certas coisas. Às vezes temos de deixar de lado nossas vontades e impulsos. Às vezes temos que nos contentar com menos do que gostaríamos. Às vezes temos até que ficar trancados em casa – sim, isso é uma referência ao COVID – 19.

Mas ainda assim, apesar de abrirmos mão de certas coisas, aprender pelo amor é muito melhor do que pela dor.

O ano de 2020 foi um ano transformador, para todos os indivíduos – conscientes ou não. Foi um ano para avaliarmos nossas relações, nossos trabalhos, nossos planos e nossos merecimentos. Muitas pessoas aprenderam pela dor.

Muitas pessoas perderam amigos e familiares, perderam trabalhos, suas casas… A humanidade perdeu florestas, animais… Mas 2020 acabou! E apesar das feridas e cicatrizes, há sempre tempo de começarmos a aprender pelo amor!

Quero começar aprender mais pelo amor nesse novo ano. Isso é o que desejo para todo o mundo: Que 2021 não seja apenas um número no nosso calendário, seja uma nova fase dentro dos nossos corações.

Aprender pelo amor também é buscar ter mais alegria, ser mais fiel e ter mais foco nos nossos quereres. É fazer por onde melhorar o que tem que ser melhorado, corrigir o que tem que ser corrigido e aprender com o que tem para ser aprendido. Não ficar patinando ou esperando milagre de braços cruzados.

É amar para ser amado.

Que esse novo giro do globo possa trazer novamente os abraços tão esperados, as risadas que estão tão discretas e a esperança de dias melhores para todos nós. Que possamos acolher as coisas com mais sabedoria, respeitar o momento e o tempo, e aprender que cada um de nós, é parte dessa grande história, e que a decisão de como essa nossa história será contada, está nas nossas mãos.

Que tal deixar a dor de lado e seguirmos firmes aprendendo com o amor?

Imagem: Melissa Teixeira

1 comentário Adicione o seu

  1. Ricardo disse:

    Que texto lindo, Aline. Encantador. Aprender pelo amor… uma arte.

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